OVERDOSE por Reinaldo Azevedo
Há poucos dias, vocês viram o patético Carlos Minc, ministro do Meio Ambiente, sobre um palco, numa cidade em Goiás, a fazer o que entendi e entendo ser a apologia da maconha não venham me dizer que ele apenas defendia a descriminação da droga. As palavras fazem sentido. Ontem, no Fantástico, o ator Fábio Assunção falou de seu drama pessoal, das dificuldades de deixar o vício no seu caso, a cocaína, cujo nome não pronunciou , de como ele ameaçou destruir a sua vida profissional, das dificuldades pessoais para superar a fase barra-pesada Assunção é uma estrela da TV, pessoa admirada por milhões de brasileiros, com condições financeiras de bancar a recuperação. No universo dos viciados, é uma exceção. Não fossem outras evidências, que estão em todo canto, um caso como esse deveria servir de matéria de reflexão àqueles que defendem, em razão de uma variada gama de equívocos, a, sei lá como chamar, "descriminação" da maconha.
Escrevo este "sei lá como chamar" porque, no Brasil, o consumo da maconha já não é crime. Basta ler a Lei Antidrogas. Aquela história dita pelo "não careta" Minc no palco a Argentina teria uma legislação mais "avançada" do que o Brasil é só mais uma bobagem dita por este senhojr. Uma dentre tantas e tão formidáveis de que ele é capaz. Naquele país, a Corte Suprema tomou uma decisão; aqui, temos lei escrita mesmo. E ela vale, ATENÇÃO, PARA QUALQUER DROGA, NÃO SÓ PARA A MACONHA. Portar qualquer substância basta ler o artigo 28 que seja apenas para consumo pessoal não dá cadeia nem processo para ninguém.
Se apóio esta lei? É claro que não! Eu a considero estúpida. Quem consome drogas ilícitas é um elo do crime, do narcotráfico. E ponto final. Se ela está doente e caso se considere em tal condição, então de buscar tratamento. Isso porece ser insuportavelmente reacionário, claro, claro Nesse caso, estou com Maurício Funes, o esquerdista presidente de El Salvador, que defendeu esta mesma posição em entrevista à VEJA. Seu país, como o Brasil, sofre os efeitos sociais danosos do narcotráfico.
É uma burrice pensar que alguém com a projeção de um Marcos Assunção só se viciou em cocaína porque ela é proibida, o que excita, então, sei lá, a imaginação transgressora, despertando, eventualmente, forças autodestrutivas etc. Essas coisas não são da minha área. Que fiquem para os especialistas nas ciências da psique e do comportamento. Se aquela droga fosse legal, estaríamos diante de um flagelo social, moral, ético e, claro, para a saúde pública. Ignorar que a descriminação levaria a uma explosão de consumo corresponde a negar uma obviedade explicitada pelo consumo das drogas legais.
As pessoas que acreditam que lidar com maconha, cocaína ou qualquer uma das outras drogas ilícitas é coisa tão simples quando amarrar uma blusa à volta da cintura e sair a dizer banalidades ignoram o óbvio: boa parte das drogas lícitas já é, sim, um flagelo social. É o caso do álcool, o principal fator de morte no trânsito; é o caso do tabaco, que mata milhões de pessoas de infarto e câncer. Por que seria diferente com essas outras drogas? Por que elas também não se popularizariam, dado que haveria uma queda brutal do preço? Se, hoje, correndo algum risco, uma parte dos adolescentes ultrapassa o temor de lidar com a bandidagem e compra o fumo, o pó, a pedra, imaginem se isso tudo fosse oferecido livremente na primeira esquina. NÃO HÁ, E GOSTARIA QUE ALGUÉM DESENVOLVESSE, ENTÃO, TESE CONTRÁRIA, UM MISERÁVEL ARGUMENTO QUE NEGUE A LÓGICA DO PROCESSO.
O que toda essa gente esconde de escandaloso é o fato de que já foi crime ser apanhado com droga no Brasil. Deixou de ser desde a lei 11.343, de 23 de agosto de 2006. E nada mudou. Ou melhor: piorou! A situação só se agravou. À medida que o consumidor perde o receio, é evidente que aumenta a demanda dos e pelos fornecedores: os traficantes.
"Ah, mas proibir joga as drogas no colo do crime". Trata-se de uma argumento boçal na sua simplicidade. Qual é a inferência? Que o sujeito que se dedica ao narcotráfico passaria a ser um trabalhador honesto se a droga fosse legalizada? Ele só vai mudar de ramo. NÃO É A DROGA QUE O TORNA UM CRIMINOSO. Ele decidiu ser um criminoso. A droga é apenas uma ilegalidade à mão. Sem ela, escolheria outra coisa. E como acabar com isso? Bem, eu acredito firmemente no binômio educação-repressão. Dê escola a quem precisa de escola e cadeia a quem precisa de cadeia. Um dos problemas do Brasil é que demagogos das mais variadas colorações deram para achar que esses termos são permutáveis. Sei que isto ofende o idealismo dos engenheiros de gente, que acreditam que o ser humano será sempre bom se o sistema for bom, mas o fato é que há pessoas que gostam de ser criminosas ser criminoso é uma escolha: no Brasil, na Suécia ou na Dinamarca. A criminalidade varia de acordo com condições objetivas; uma delas é a certeza de punição e ou de impunidade. Também nesse particular suecos e brasileiros vivem realidades distintas, não é?
E deixo aqui registrado o meu pedido aos defensores da descriminação da maconha: é preciso ter, então, ao menos, a honestidade intelectual de defender a descriminação de todas as drogas. Ou que motivo se vai alegar para manter proibidos a coca, a heroína, o crack e o ecstasy? Ora, não se tratava de uma forma de combater o narcotráfico? Liberando-se só a maconha, um mínimo de raciocínio econômico evidencia que o crime se tornaria mais robusto. Porque a contrapartida da queda do preço da maconha seria a elevação do preço das outras drogas. E ninguém deixa de cheirar pó só porque ele anda pela hora da morte
Parece que Fernando Grostein Andrade filma os debates que FHC faz aqui e ali sobre a questão das drogas e pretende fazer um documentário. É mesmo? Seria lançado também no ano que vem, junto com Lula, o Filho do Brasil? Seria realmente um momento único para o imaginário popular: o tucano a debater a questão sociológica das drogas etc, e Lula pintando como milagreiro do povo, o advento, o novo Messias.
É muita droga ao mesmo tempo!
Trata-se, definitivamente, de uma overdose!
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Via Dois em Cena