Carlos Henrique Ferreira Melo*
Andar pelo Pelourinho nos leva a uma viagem no tempo, imaginar como era a vida, o relacionamento entre os nobres e os pobres, um ambiente rico em cultura, em história, em beleza. Após um almoço típico, circulei pelas ruas e, apesar da beleza local e de toda a aura histórica, verifiquei uma grande quantidade de crianças e adolescentes sujos, drogados, pedindo esmolas ou deitados no chão. Encontrei uma garota grávida aparentemente de 15 anos, suja e maltrapilha que circulava, segurando um frasco de soro que possivelmente a hidratava, pois estava inserido no seu braço, vociferando por ajuda. Toda vez que percebo situações como esta me ocorre: por que os nossos governantes não acolhem estes jovens? Por que o número deles aumenta em toda a cidade? Não consigo resposta convincente, procuro compreender as dificuldades e os custos para ao menos minimizar os problemas, aperto o coração, mas não me convenço.
Lendo a matéria intitulada "Obra do PAC é interrompida para preservar família de pererecas", no jornal Correio* (27 de setembro de 2009), percebo como é importante a preservação do meio ambiente e como o assunto é levado a sério pelo ministro Carlos Minc e sua equipe, a ponto de interromperem uma obra orçada em 1 bilhão de dólares a construção do arco metropolitano no Rio de Janeiro. Fiquei impressionado com tamanha dedicação e preocupação, soluções técnicas estão sendo cuidadosamente estudadas a fim de preservar a espécie ameaçada de extinção. Segundo o ministro do Meio Ambiente, é possível separar o brejo das pererecas do Arco Metropolitano. "A solução técnica é ter placas de aço que vão separar a área do canteiro dos brejos onde as pererecas copulam alegremente. Então, é possível preservar as nossas pererecas que estão ameaçadas de extinção. Além de integrar a economia, (o arco metropolitano) vai tirar ônibus e caminhões da ponte Rio Niterói e da Avenida Brasil, o que vai reduzir a emissão de poluentes na Região Metropolitana e na cidade do Rio", disse.
Esta preocupação denota e reconhece primeiro a obrigação do governo em preservar o meio ambiente, depois nos ajuda a perceber sua competência, eficácia e eficiência para tanto. Sem entrar no mérito e longe de criticar o ato, pois preservo o meio ambiente por convicção, me ocorreu o porquê de a garota do Pelourinho estar abandonada, com sério risco de extinção, sob os olhos deste mesmo governo. Porque, a cada duas horas, morre um adolescente assassinado no Brasil são cinco mil por ano, segundo a Unicef. Pensei e me coloquei no lugar do cidadão que encontrou a família de pererecas na obra, levando imediatamente ao conhecimento do ministro e pensei também o quanto deve ter ficado orgulhoso e satisfeito pela atenção e solução apresentada, e despertei para o detalhe de que o fato do Pelourinho pode ocorrer por falta de informações, que não chegam ao conhecimento do governo. Tanto que resolvi fazer o mesmo que o cidadão das pererecas: avisar ao Sr. Ministro Carlos Minc, aproveitando para avisar também ao Sr. Presidente, aos Srs. Ministros, Governador, Secretários, Prefeito, Vereadores e Deputados de que, aqui no Pelourinho, na Bahia, existe uma garota não uma perereca precisando de solução para o seu problema. No Brasil, a cada duas horas, uma família (não de pererecas, mas de seres humanos) precisa de amparo, pois perde um adolescente assassinado. Aguardo o mesmo zelo, eficácia, eficiência e dedicação e não vai ser preciso nem paralisar obras milionárias, talvez colocando placas de aço em voltas das famílias seja possível impedir que seus filhos sejam atingidos por tiros.
*Carlos Henrique Ferreira Melo é major da PM-BA, comandante da 39ª CIPM (Boca do Rio/Imbuí), especializado lato sensu em Gestão Estratégica em Segurança Pública (Cegesp-UFBA) e em Defesa Social e Cidadania UFPA e professor da Academia da PM e da Uneb.