Só neste ano, juízes foram alvo de 113 sindicâncias
Punição máxima, no entanto, é aposentadoria com direito a salárioMotivo de  resistência entre magistrados desde que surgiu, no final de 2004, o Conselho  Nacional de Justiça (CNJ) passou seus quatro primeiros anos sem apresentar  números significativos no que diz respeito, por exemplo, a investigações de  juízes e desembargadores suspeitos de corrupção. De um ano para cá, tudo mudou.  São 113 sindicâncias abertas em 2009, contra apenas 15 no ano passado, um  crescimento de 653%.
O CNJ passou a cumprir a atribuição de mapear  desvios éticos e disciplinares de um poder historicamente avesso a ser  fiscalizado. Desde que foi instalado, em junho de 2005, o modus operandi também  mudou. Agora, o conselho tem recorrido até a expedientes de polícia, como  análise de variação patrimonial e de movimentações financeiras dos juízes. O  centro nevrálgico da mudança é a Corregedoria Nacional de Justiça, instância do  CNJ planejada para fiscalizar desvios disciplinares de juízes e solucionar o mau  funcionamento de fóruns e tribunais.
Sob o comando do ministro Gilson  Dipp, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), de setembro de 2008 a setembro  deste ano a corregedoria abriu 5.358 procedimentos para apurar desvios de toda  ordem no sistema judiciário brasileiro, desde falhas processuais e  administrativas até venda de sentenças.
Nos primeiros quatro anos, tendo  à frente outros dois ministros do STJ, Antônio de Pádua Ribeiro, hoje  aposentado, e César Asfor Rocha, atual presidente do tribunal, a corregedoria  abriu apenas 28 sindicâncias. Das 113 abertas neste ano, dez já se transformaram  em processos administrativos disciplinares, que podem custar o emprego dos  investigados.
Sete magistrados foram afastados preventivamente e quatro,  aposentados compulsoriamente. É a pena máxima a que um juiz pode ser submetido  na esfera administrativa. E ainda tem direito a salário proporcional ao tempo de  trabalho, que só perde após uma sentença final.
NA GAVETA
Os  afastamentos recentes foram no mês passado. Envolvem três magistrados do  Tribunal de Justiça da Bahia. Maria de Fátima Silva Carvalho é acusada de  assinar sentenças escritas pelos próprios acusados e Janete Fadul de Oliveira,  de receber R$ 700 mil para decidir em favor de uma empreiteira.
A pedido  do Ministério Público, o processo começou a tramitar no tribunal baiano, mas os  desembargadores entenderam que não havia elementos para abrir ação penal. O  relator, desembargador Rubem Dário, também era investigado sob suspeita de venda  de sentenças. O processo subiu para o CNJ e tanto as juízas quanto Dário foram  afastados preventivamente das funções.
O rol de juízes afastados inclui  até um desembargador-corregedor, Jovaldo dos Santos Aguiar, do TJ do Amazonas.  Encarregado de investigar seus pares, ele fazia o oposto. Durante inspeção nos  escaninhos do desembargador, o CNJ descobriu que, dos 39 procedimentos  instaurados para investigar magistrados, 16 estavam na gaveta. Ainda no Estado,  o CNJ afastou mais dois magistrados. O desembargador Yedo Simões e o irmão, Elci  Simões, são suspeitos de favorecer um político.
Outro recém-afastado é o  desembargador Edgard Lippmann Júnior, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região,  corte de segunda instância da Justiça Federal com sede em Porto Alegre e  jurisdição em todo o Sul. É acusado de beneficiar uma casa de bingo em troca de  dinheiro. 
FURANDO A FILA
Na Paraíba, o CNJ afastou o  desembargador Marcos Antônio Souto Maior, acusado de assinar despacho sob medida  para que um assessor de seu gabinete conseguisse furar a fila de precatórios do  governo local. 
À época ele presidia o TJ e, no despacho, determinou o  sequestro de R$ 147 mil para quitar o precatório do assessor, que ocupava o 23º  lugar na fila. Por ordem do CNJ, Souto Maior passou a receber salário  proporcional ao tempo de serviço.
Na lista de magistrados aposentados  compulsoriamente por ordem do conselho estão dois juízes do trabalho. Um deles,  Suenon Ferreira de Sousa Júnior, do Pará, foi acusado de retardar decisões e  criar embaraços a advogados que não lhe emprestavam dinheiro. 
O outro  juiz do trabalho punido é Paulo Barbosa dos Santos Rocha. Para o CNJ, ele tinha  conduta incompatível com o cargo. Em uma briga de família, teria pedido a um  delegado que fizesse ameaças a um parente.
Os processos surgem de várias  maneiras. Por vezes, como no caso da Bahia, após os tribunais de origem não  adotarem as providências necessárias. As investigações podem começar, ainda, de  denúncias que qualquer cidadão ao CNJ. Quando há indícios para instaurar  sindicância, o conselho inicia a apuração, como um inquérito policial.  
Se há suspeita de corrupção, a corregedoria conta com o auxílio da  Receita Federal e do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). "O  CNJ se consolidou como o grande interlocutor da sociedade com o Judiciário e vem  adotando medidas drásticas quando se trata de infrações disciplinares ou desvios  de conduta", afirma Dipp
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20091018/not_imp452363,0.php
